sexta-feira, julho 06, 2007

Descuido Mortal

Ele era um vampiro muito velho. Recebera sua imortalidade em meados do século III, na velha Roma enquanto vagava pelas suas ruas como um simples soldado que voltava, ferido, da defesa contra os bárbaros. Nem viu aquele vulto aproximar-se pelas sombras e, quando deu por si, já estava morto. E vivo!Depois de vaguear por toda a Europa por séculos sem fim, sempre com fome e disposto a manter-se vivo, encontrou fartura no navio apinhado de gente vindo para a América e resolveu mudar de ares: o Brasil era seu destino agora e ele previa mais alguns séculos de novas descobertas, novos lugares e novas caçadas.

As caçadas, estas agora eram o seu grande prazer. Já tivera outros, sangue, fortuna, festas e orgias, mas agora a caçada reinava como única motivação que encontrava para continuar na sua longa existência.Nesta noite, especialmente, estava embriagado pelo odor que exalava de sua vítima. Lindo rapaz, com cerca de vinte anos; alto, forte, bons músculos obtidos no trabalho duro na fábrica instalada há muitos anos naquele antigo bairro de São Paulo. As ruas estreitas e mal iluminadas davam-lhe uma aparência rústica, mas vistos de perto, seus olhos eram límpidos e brilhavam com o medo extremo.

Já o perseguia havia meia hora, sempre conduzindo-o pelos caminhos que queria, cercando-o com sua sombra aterrorizante e brincando como um gato brinca com o rato antes de devora-lo. Não tinha pressa, já havia saciado sua sede antes e agora desejava a caçada. Era um vampiro experiente e desprezava os humanos por serem lentos e frágeis.Nesses devaneios quase o perdeu, o medo havia dado uma velocidade incrível para aquele rapaz e antes que esse pulasse uma cerca salvadora, derrubou-o sobre a madeira, espatifando-a, e fazendo-o voltar àquele caminho escuro de onde havia acabado de sair.Apesar de todo o prazer, viu que se demorasse muito, aquele jovem com uma ânsia incomum de viver poderia escapar e resolveu terminar o jogo. Encurralou-o em um beco sem saída. Mostrou-se face a face e...sentiu algo queimando seu peito! Não!? Seria possível?! Sim, como pôde descuidar-se tanto?Não havia mais tempo para divagações, pois um pedaço de madeira de cerca quebrada despontava de seu peito quando deu um passo atrás e, apenas um momento antes de transformar-se em cinzas, viu aqueles olhos assustados que sequer entendiam direito o que tinha acontecido. Fora um descuido mortal.

Por César Lima

Um comentário:

Anônimo disse...

que bosta....